IA generativa acelera laudos radiológicos em tempo real

🆕 NOVA FERRAMENTA

A sobrecarga em radiologia é crítica: enquanto a demanda por exames cresce aceleradamente, o número de especialistas não acompanha o ritmo. Só no Reino Unido, o déficit de radiologistas pode chegar a 39% até 2029, segundo o Royal College of Radiologists. No Brasil, o cenário também é desafiador.

Mas uma tecnologia está mudando esse quadro: a inteligência artificial generativa. Um estudo publicado em junho de 2025 na JAMA Network Open mostrou que uma IA interna da Northwestern Medicine foi capaz de reduzir o tempo de resposta em casos críticos de pneumotórax de 24 minutos para apenas 24 segundos.

Crise na radiologia: demanda sobe, mas faltam especialistas

Segundo levantamento da FMUSP e da AMB (2023), o Brasil tem menos radiologistas por 100 mil habitantes do que outras especialidades médicas. E a demanda só cresce, impulsionada por fatores como:

  • O envelhecimento da população;
  • O avanço na detecção precoce de doenças;
  • A incorporação rotineira dos exames de imagem na tomada de decisão clínica.

Esse descompasso gera atrasos perigosos, especialmente em emergências.

Como funciona a IA generativa da Northwestern

A ferramenta foi desenvolvida in-house, por engenheiros e radiologistas da Northwestern Medicine (EUA), com dados internos e conformidade com a HIPAA,  legislação dos EUA que regula a privacidade e segurança dos dados de saúde. Veja como ela atua:

  1. O exame é capturado no PACS e enviado automaticamente para a IA.
  2. Em ambiente de Computação de Alto Desempenho (HPC) seguro, a imagem é processada por um modelo multimodal encoder-decoder, que:
    • Extrai vetores de imagem (encoder)
    • Combina com contexto clínico e gera o rascunho do laudo (decoder)
  3. Achados críticos disparam alertas automáticos.
  4. O radiologista revisa e assina o laudo no próprio sistema (RIS/PACS).

Resultado: até 95% do laudo é redigido automaticamente, com estilo semelhante ao do médico.

Resultados do estudo clínico (JAMA Network Open, 2025)

  • Amostra: 23.960 radiografias (com IA vs. sem IA)
  • Eficiência: +15,5% com IA
  • Detecção de pneumotórax crítico:
    • Tempo médio: 24 segundos com IA vs. 24 minutos sem IA
    • Sensibilidade: 72,7%
    • Especificidade: 99,9%
  • Avaliação cega de 800 laudos:
    • Nenhuma diferença significativa em acurácia ou qualidade textual

Desafios e limitações (JAMA Network Open, 2025)

Embora os resultados tenham sido animadores, os pesquisadores ressaltam que as radiografias e os radiologistas envolvidos no estudo, por serem de um único centro hospitalar, podem não ser representativos de outras populações.

Ressaltam também que ensaios clínicos randomizados, uma vez que este é observacional, precisam ser realizados. E sugerem que utilizar mais dados clínicos, já que a IA ainda não usa todo o prontuário, pode gerar laudos mais relevantes e personalizados.

IA em tomografias: eficiência preliminar de até 80%

Segundo o Radiology Business, dados ainda não publicados indicam ganhos de até 80% de eficiência com tomografias computadorizadas. Ensaios clínicos randomizados serão essenciais para validação definitiva.

IA da Northwestern vs. RadAI: principais diferenças

CaracterísticaNorthwestern MedicineRadAI
Fonte de dadosImagem bruta + contexto clínicoLaudo prévio ou ditado
Geração de laudo95% do textoApenas seção “Impression”
Tipo de modeloVision-language encoder-decoderProcessamento de Linguagem Natural (NLP) puro
Foco principalTriagem rápida e leitura automatizadaPadronização e economia de tempo
Status regulatórioUso interno (não comercial)Produto comercial nos Estados Unidos

Leia também: Análise completa da RadAI


🧠 O que o Brasil pode aprender com isso?

O diferencial da Northwestern Medicine não foi apenas usar IA generativa — foi desenvolver sua própria ferramenta, com dados reais, para resolver um gargalo clínico específico, dentro do seu fluxo operacional.

Para o Brasil, o aprendizado está justamente aí:

  • Não esperar soluções prontas de fora, mas sim fomentar projetos locais, feitos por equipes médicas e técnicas integradas;
  • Conectar tecnologia à realidade do hospital, com validação direta em ambiente clínico;
  • Focar em interoperabilidade real, integrando a IA a sistemas já utilizados pelos médicos (como PACS/RIS).

Ou seja, não se trata de copiar o que foi feito nos EUA, mas de adotar o mesmo mindset: identificar o gargalo, usar os próprios dados e testar em escala real.


❓ FAQ – Perguntas Frequentes

Como a IA consegue gerar o laudo radiológico automaticamente?

A ferramenta usa um modelo multimodal do tipo encoder-decoder, treinado com imagens e laudos reais do Northwestern Medicine. Ao receber um novo exame (via PACS), o sistema:

  1. Codifica a imagem (vetores visuais);
  2. Integra com o contexto clínico do paciente (idade, sintomas, histórico);
  3. Gera um rascunho textual do laudo no estilo do radiologista.
    Achados críticos ativam alertas automáticos, e o laudo final é revisado e assinado pelo médico.

A IA é clinicamente precisa? É segura para uso?

Sim. Estudos clínicos com avaliação cega demonstraram que os laudos gerados pela IA têm acurácia e qualidade textual equivalentes aos de especialistas humanos.


Quais modalidades de imagem são compatíveis atualmente?

Neste momento, a IA está implementada para radiografias (raios-X). Estudos preliminares em andamento mostram eficiência de até 80% em tomografias computadorizadas, com expansão planejada para outras modalidades, como ressonância magnética e ultrassonografia.


A IA substitui o radiologista?

Não. A IA atua como assistente redatora: ela gera um rascunho inicial do laudo, mas o radiologista permanece como responsável técnico, revisando, editando e assinando o documento final. O papel médico continua essencial — inclusive para validar achados e assumir decisões clínicas.


O que diferencia essa IA das soluções comerciais como a RadAI?

  • Diferente de modelos prontos baseados apenas em linguagem natural (como a RadAI), a IA da Northwestern:
  • É otimizada para triagem em tempo real, especialmente em casos críticos.
  • Utiliza imagem bruta + dados clínicos para gerar o laudo;
  • Produz até 95% do texto automaticamente, incluindo achados e descrição;
  • Foi desenvolvida internamente, integrada diretamente aos sistemas do hospital (RIS/PACS);

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📚 Referências

🧪 Artigos científicos

📊 Relatórios institucionais

📰 Notícias e portais

— 🧠 **Por Gustavo Giannella, para o Neural Saúde** Biomédico especialista em diagnóstico por imagem e inteligência artificial aplicada à saúde. Editor do portal NeuralSaude.com.br, dedicado a mapear e explicar como a IA está transformando a medicina no Brasil. 📩 Quer acompanhar as novidades? Siga o [Instagram @neural.saude] ou visite o site [www.neuralsaude.com.br] —

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