IA brasileira monitora pacientes à distância e reduz reinternações após cirurgias

JÁ EM USO NO BRASIL

As complicações e reinternações no pós-operatório continuam sendo um dos maiores gargalos do SUS e também pressionam hospitais privados. Para enfrentar esse desafio, a startup Kidopi desenvolveu o CleverCare, uma plataforma de inteligência artificial (IA) que acompanha pacientes remotamente após a alta hospitalar — via SMS, WhatsApp ou Telegram — monitorando sintomas, adesão a medicamentos e sinais clínicos em tempo real.

🔬 O que é o CleverCare?

O sistema combina três tecnologias centrais:

  • Machine learning (aprendizado de máquina) – para prever riscos de complicações.
  • Processamento de linguagem natural (PLN) – para interpretar as respostas dos pacientes.
  • Recuperação de informação médica – para acionar alertas automáticos a equipes de saúde.

Os fluxos de comunicação são personalizados conforme a condição clínica e adaptativos: a IA ajusta automaticamente as mensagens e condutas com base nos dados que o paciente envia.

Exemplo de utilização CleverCare. Fonte: Site Oficial Kidopi

📲 O paciente interage de forma simples: recebe mensagens com perguntas sobre sintomas (ex: dor, febre, sangramento), responde pelo canal preferido e é orientado ou sinalizado à equipe de saúde, caso haja risco.

📈 Resultados do estudo com pacientes oncológicos

Entre novembro de 2021 e novembro de 2022, pesquisadores do A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, em parceria com a Johnson & Johnson do Brasil (Johnson & Johnson MedTech), e suporte tecnológico da empresa Kidopi, conduziram um estudo prospectivo com o objetivo de desenvolver e validar o CleverCare. O foco deste estudo piloto foi o acompanhamento precoce de pacientes após cirurgias oncológicas colorretais. A ferramenta foi projetada para monitorar sintomas e detectar possíveis complicações no período pós-alta hospitalar.

A metodologia envolveu 92 pacientes submetidos a cirurgias eletivas, que utilizaram o aplicativo para responder a questionários diários baseados em sintomas e fotos da incisão. O sistema integrava um algoritmo de alerta para notificar a equipe médica sobre sinais de complicação.

Os resultados demonstraram que o aplicativo apresentou acurácia de 82%. Ou seja, 82% de todas as vezes em que o aplicativo avaliou se o paciente estava com ou sem complicação, ele acertou. Apresentou também sensibilidade de 75%, que mede a capacidade do teste em identificar corretamente os pacientes que realmente têm uma complicação. E valor preditivo negativo de 97%, que mostra que, em 97% dos casos em que o aplicativo indicou que o paciente estava bem, isso era de fato verdade.

Sobre a aprovação dos pacientes em relação à tecnologia, os resultados demonstraram alta taxa de adesão (83,7%) e excelente aceitação pelos pacientes. O Net Promoter Score (NPS), métrica que também mede o nível de satisfação e lealdade dos usuários, foi de 94. Esses dados indicam que a solução é promissora como suporte ao seguimento clínico precoce no domicílio.

🧠 Quem é a Kidopi?

A Kidopi foi criada em 2009, por três ex-alunos do curso de Informática Biomédica da USP Ribeirão Preto: Mario Sérgio Adolfi Júnior, Hugo César Pessotti e Fábio Marcon Pallini. E tem como missão aplicar tecnologia e IA para resolver problemas reais da saúde pública e hospitalar, com soluções como gestão de transferências hospitalares, triagem, automação e monitoramento de pacientes.

Além do CleverCare, a Kidopi tem outros projetos, dentre eles o HealthBI, programa que oferece a gestores hospitalares acesso à indicadores e ferramentas de gestão em tempo real.

🚀 Potencial de expansão e desafios do SUS

Segundo divulgado pela FAPESP, em dezembro de 2024, a arquitetura de fluxos e o motor de NLP (Processamento de Linguagem Natural) do sistema desenvolvido pela Kidopi já suportam jornadas específicas para diabetes, osteoporose e saúde do idoso.

Essa modularidade e flexibilidade abrem caminho direto para o monitoramento de doenças crônicas de alto custo, como:

  • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
  • Hipertensão arterial
  • Insuficiência cardíaca
  • Doença renal crônica
  • Cânceres em tratamento ambulatorial

Esse tipo de solução é ideal para o SUS e operadoras de saúde, porque permite gestão populacional em larga escala, com segmentação de risco automatizada; reduz internações evitáveis, que geram alto custo; melhora adesão ao tratamento, especialmente com idosos e pacientes com múltiplas comorbidades.

Entretanto, integrar estas soluções no SUS é um desafio, segundo o próprio Mario Adolfi: “Meu objetivo é escalar para o SUS, mas o governo não está preparado para comprar inovação. Ele é preparado para comprar algodão e seringa”.

A escala da solução exige integração com sistemas do SUS e da atenção primária, além de garantir conectividade para uso de SMS/WhatsApp por pacientes. Desafios regulatórios, como LGPD e certificações médicas, também precisam ser vencidos. No entanto, há planos de expansão para outras cirurgias e acompanhamento crônico por meio de pesquisas da FAPESP .


📌 O que isso muda no Brasil?

Para explicar o que essa tecnologia muda e transforma o Brasil, basta explicar o que tem sido feito no Hospital do Amor, em Barretos-SP.

O hub Harena, fundado em 2019, é um centro de inovações tecnológicas e funciona dentro do ecossistema do próprio hospital. Assim, utiliza o ambiente hospitalar para desenvolver uma ideia simples e potente: transformar o hospital — 100% SUS e referência em oncologia — num “laboratório vivo” de validação de tecnologias, especialmente as baseadas em inteligência artificial.

E o que isso tem a ver com o tema do artigo? Neste ambiente que a Kidopi monitora pacientes com câncer de mama, pulmão e colorretal, através do CleverCare. Segundo matéria da Folha de São Paulo, 41% dos pacientes com câncer de mama relataram melhora dos sintomas após quimioterapia com orientação do chatbot. Já entre os que passaram por cirurgia colorretal, 74% dos pacientes tiveram sintomas, foram monitorados à distancia e não precisaram se deslocar até o hospital.

E outros 34% sanaram dúvidas durante a quimioterapia, além de serem lembrados sobre a dose dos medicamentos, consultas e exames.

O sucesso dessas iniciativas prova que a inteligência artificial aplicada à saúde já está pronta para escalar dentro do SUS — desde que haja integração sistêmica, investimento estratégico e compromisso com a inovação pública.


❓FAQ – Tudo sobre o CleverCare, IA brasileira para monitoramento remoto de pacientes

📌 O que é o CleverCare?

O CleverCare é uma plataforma de inteligência artificial desenvolvida pela startup brasileira Kidopi, que permite o monitoramento remoto de pacientes após cirurgias ou durante tratamentos clínicos. A ferramenta funciona por canais acessíveis como SMS, WhatsApp e Telegram, utilizando algoritmos para prever complicações, interpretar sintomas e acionar alertas médicos em tempo real.

🤖 Como funciona a inteligência artificial do CleverCare?

A IA do CleverCare combina três tecnologias-chave:

  • Machine Learning: analisa dados e aprende padrões de risco clínico;
  • Processamento de Linguagem Natural (PLN): compreende respostas textuais dos pacientes;
  • Sistemas de Recuperação de Informação Médica: automatizam a triagem e os alertas à equipe de saúde.

Com isso, o sistema consegue personalizar a jornada de cuidado, adaptando perguntas e orientações com base no perfil clínico individual do paciente.

👩‍⚕️ Quem pode usar o CleverCare?

O CleverCare é indicado para:

  • Pacientes recém-operados (cirurgias oncológicas, colorretais, ginecológicas etc.);
  • Pessoas com doenças crônicas de alto custo, como DPOC, insuficiência cardíaca, diabetes e hipertensão;
  • Idosos e pacientes com comorbidades que exigem acompanhamento contínuo no domicílio.

🌐 Precisa de internet para funcionar?

Não obrigatoriamente. O CleverCare é compatível com SMS, o que o torna funcional mesmo em regiões com baixa conectividade — fator essencial para sua aplicação no SUS e em áreas remotas.

📲 Como é a interação do paciente com o sistema?

O paciente recebe mensagens com perguntas simples e objetivas (ex: “Você teve febre hoje?” ou “Sua cirurgia está com secreção?”) e responde diretamente pelo canal preferido. O sistema interpreta essas informações e:

  • Envia orientações automatizadas;
  • Ou aciona a equipe médica, caso detecte sinais de risco.

📊 Quais são os resultados clínicos já comprovados?

Em um estudo realizado com 92 pacientes do A.C. Camargo Cancer Center:

  • Acurácia geral: 82%
  • Sensibilidade para detecção de complicações: 75%
  • Valor preditivo negativo: 97%
  • Adesão ao uso da tecnologia: 83,7%
  • NPS (satisfação do usuário): 94

Esses dados indicam que o CleverCare é confiável, bem aceito pelos pacientes e eficaz na prevenção de reinternações.

🏥 O CleverCare já está disponível no SUS?

Ainda não há uma implementação nacional no SUS. Atualmente, a solução está em hospitais públicos e privados, com parcerias como Hospital do Amor (Barretos-SP) e apoio da FAPESP. A expansão exige:

  • Integração com sistemas do SUS e da atenção primária;
  • Resolução de barreiras regulatórias (como LGPD e certificações).

💸 O paciente precisa pagar pelo uso?

Não. O CleverCare é contratado por instituições de saúde (hospitais, operadoras, políticas públicas), e o uso final para o paciente é gratuito, sem necessidade de instalação de aplicativo.

🌍 Onde o CleverCare já foi testado com sucesso?

  • Hospital do Amor (SP): monitoramento de pacientes com câncer de mama, pulmão e colorretal;
  • A.C. Camargo Cancer Center: estudo validado com cirurgia colorretal;
  • Projetos apoiados pela FAPESP: expansão para doenças crônicas.

🧠 Quem criou o CleverCare?

O CleverCare foi desenvolvido pela Kidopi, startup brasileira fundada por ex-alunos da USP Ribeirão Preto. A empresa é especializada em soluções de IA para saúde pública, com reconhecimento internacional (como o World Summit Award da ONU).

📚 Referências

🔬 Fontes científicas e técnicas

  • Kupper, B. E. C. et al. (2024). Developing and validation of a smartphone app for post‑discharge early follow‑up after colorectal cancer surgeries. Digital Health, 10. https://doi.org/10.1177/20552076241292389
    Estudo clínico validando o CleverCare em 92 pacientes oncológicos.
  • FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (2024). Projetos de pesquisa aplicada com foco em doenças crônicas e IA médica.
    https://bv.fapesp.br
    Apoio institucional à expansão do CleverCare para outras condições clínicas.

🏥 Fontes institucionais e de inovação

📰 Fontes jornalísticas

  • Folha de S.Paulo – Hospital usa IA para monitorar pacientes do SUS
    Publicado em 2024link sob demanda (conteúdo pago)
    Matéria sobre o uso do CleverCare no Hospital do Amor.
  • SINTTEC – Sindicato Nacional dos Tecnologistas
    Homepage

    Divulgação técnica do uso da IA em hospitais públicos brasileiros.

🔍 Explore mais casos de IA na saúde brasileira em nosso portal: Neural Brasil

🔍 Conheça mais sobre IA preditiva, com nosso artigo recém lançado no Neural Explica!

— 🧠 **Por Gustavo Giannella, para o Neural Saúde** Biomédico especialista em diagnóstico por imagem e inteligência artificial aplicada à saúde. Editor do portal NeuralSaude.com.br, dedicado a mapear e explicar como a IA está transformando a medicina no Brasil. 📩 Quer acompanhar as novidades? Siga o [Instagram @neural.saude] ou visite o site [www.neuralsaude.com.br] —

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *