🆕 NOVA FERRAMENTA
A cirurgia de coluna exige precisão extrema na avaliação de imagens, principalmente quando há escoliose ou fraturas. A nova versão da IA CoLumbo, aprovada pelo Food and Drugs Administration (FDA) em 15 de agosto de 2024, facilita esse processo, automatizando medições críticas de imagens por ressonância lombar. Isso representa um avanço no planejamento cirúrgico automatizado e no campo da segmentação de imagem por IA.
A palavra‑chave IA no pré‑operatório destaca como sistemas inteligentes estão transformando a abordagem clínica. O problema de variabilidade e demora na análise humana passa a ser mitigado com esta ferramenta inteligente, reduzindo tempo e erros antes da cirurgia.
Como funciona o CoLumbo
O CoLumbo é um software desenvolvido pela empresa búlgara Smart Soft Healthcare, que utiliza inteligência artificial no pós-processamento de ressonância magnética da coluna lombar. Ou seja, algoritmos de deep learning e técnicas de segmentação automática para identificar estruturas vertebrais, calcular mais de 20 medidas anatômicas, e sinalizar para o radiologista valores fora da faixa “normal”.
A segmentação das estruturas ocorre de forma automática. Imagem a imagem, a inteligência artificial (IA) realiza os contornos. Baseado nas informações carregadas pelo radiologista, o software adiciona, ou não, uma marcação “fora do padrão”. Ou seja, o radiologista pode utilizar valores de literatura, protocolos da instituição ou preferências pessoais, para determinar os padrões a serem utilizados.

A versão 3 do software, recém aprovada pelo FDA, trás algumas novidades em relação à versão anterior:
| Critério | Versão 2 | Versão 3 |
| Indicação de Uso | Em critérios de exclusão há “escoliose” e “fraturas” | Remove “escoliose” e “fraturas” do critério de exclusão |
| Medições suportadas | ~10 | ~20 (ou seja, novas funcionalidades clínicas adicionadas) |
| Validação | Testes não-clínicos | Estudo de validação com 100 pacientes e radiologistas nos EUA |
| Conformidade | Parcial | Testado para conformidade com normas IEC/ISO de segurança, usabilidade, ciclo de vida de software |
CoLumbo no fluxo hospitalar
- Input: uma vez que a RM lombar é realizada, você importa o exame, em formato DICOM, para o software;
- Segmentação automática: a rede neural convolucional (CNN) contorna corpos vertebrais, discos, canal, facetas, etc.;
- Medições geradas: o algoritmo calcula alturas, ângulos, áreas;
- Aplicação de thresholds: compara cada valor com os limites definidos pelo usuário; marca “fora do padrão”;
- Revisão humana: o radiologista confirma/edita segmentações, e decide se o valor marcado é clinicamente relevante;
- Exportação: relatório estruturado enviado ao RIS/PACS.
A tecnologia não substitui o julgamento clínico, mas agiliza etapas manuais e padroniza procedimentos.
Resultados encontrados na utilização do CoLumbo
O European Journal of Radiology publicou um estudo, em outubro de 2024, realizado no Sengkang General Hospital, em Singapura, que teve como objetivo avaliar se a assistência por IA, através do CoLumbo, pode:
- Manter coerência na interpretação diagnóstica;
- Reduzir o tempo de leitura de RMs da coluna lombar;
- Melhorar a consistência entre leitores.
Para isso, foram coletados 51 exames de ressonância magnética lombar, a fim de realizar a comparação da:
- Leitura por 4 radiologistas experientes (>8 anos), sem IA.
- Leitura pelos mesmos exames por 4 residentes do último ano, com auxílio de IA e sem acesso aos laudos originais.
A versão do software analisada foi liberada pelo FDA em 2022, e se trata de versão prévia à 3, liberada em 2024.
Os principais resultados foram:
- Redução no tempo de leitura em 14 minutos (~60%) com a utilização de IA;
- E intervalo Interquartílico (IQR), que mede a dispersão de dados, no caso, quão espalhados estão os tempos de leitura entre os radiologistas, diminuídos de ~56 para ~5 minutos;
- Alta concordância entre os grupos na detecção de estenose lombar; para achados incidentais a precisão foi mantida; e, para classificação de patologias diversas, não houve perda de acurácia.
Os pesquisadores concluíram que o uso da IA CoLumbo levou a uma redução significativa (-60%) no tempo de interpretação dos exames, promoveu uma maior consistência entre os radiologistas e preservou a precisão diagnóstica, quando comparada ao padrão.
Onde o CoLumbo tem sido utilizado?
Como a ferramenta possui marca CE e clearence FDA, já tem sido amplamente utilizado, implantado e testado em diversos centros, de diversos países. Integra sistemas PACS, como o Sectra IDS7, e pode exportar relatórios automaticamente, melhorando fluxos destas clínicas e hospitais.
No NASS 2024, a Medtronic apresentou uma série de inovações para o ecossistema AiBLE, voltado para cirurgia de coluna e crânio. Esse ecossistema integra tecnologias de navegação, robótica, IA, imagem, software e implantes, com objetivo de promover maior precisão, previsibilidade e resultados clínicos otimizados.
Uma das plataformas deste ecossistema é a UNiD Adaptive Spine Intelligence (ASI), que usa IA para planejamento cirúrgico personalizado com base em dados de mais de 28 mil procedimentos. E a Medtronic anunciou a integração do MRI Vision, que é o nome dado à parte IA/visão computacional do CoLumbo, responsável por analisar automaticamente os exames de ressonância lombar.
Ou seja, a CoLumbo se integra ao ecossistema da Medtronic.
Por enquanto, não há evidências publicadas da utilização do CoLumbo no Brasil.
Limitações e próximos passos
Segundo o FDA, o CoLumbo é compatível apenas com imagens DICOM na região lombar, de pacientes com 18 anos ou mais. E não suporta:
- Imagens com contraste;
- Exames de pacientes grávidas;
- Imagens de pacientes com tumores, infecções ou complicações pós-operatórias.
Apesar dos comprovados ganhos, o CoLumbo exige supervisão humana: todas as segmentações e medições devem ser revisadas, e a responsabilidade final de interpretação e confirmação permanece com o médico.
Como a configuração dos padrões é configurado manualmente, ajustes inadequados podem gerar falsos positivos ou negativos.
🧠 O que o Brasil pode aprender com isso?
A aplicação do CoLumbo mostra que é possível automatizar etapas críticas da análise por ressonância magnética com ganhos comprovados em velocidade e padronização — um avanço altamente relevante para o contexto brasileiro. Hospitais do SUS e redes privadas frequentemente lidam com grandes volumes de exames e variações na qualidade dos dados, o que reforça a necessidade de ferramentas, como o CoLumbo, que reduzam variabilidade e otimizem o tempo de leitura.
Além disso, uma dissertação de mestrado da UFRGS (2025) explorou o uso de aprendizado de máquina para analisar como parâmetros técnicos de aquisição influenciam a qualidade de imagens de ressonância magnética da coluna lombar e cervical. Embora não tenha foco clínico direto, o estudo demonstrou que há expertise nacional em aplicar modelos preditivos a dados reais da prática hospitalar. Esses avanços indicam um caminho promissor para futuras integrações entre a pesquisa acadêmica e soluções clínicas, desde que haja esforços coordenados para validação com especialistas e inserção nos fluxos operacionais da radiologia.
FAQ
Como o Brasil pode usar o CoLumbo?
Através de validação local, parceria com distribuidoras oficiais, capacitação de profissionais e aprovação pela Anvisa.
O que é CoLumbo?
É uma ferramenta que utiliza a IA para a segmentação automática de imagens de ressonância lombar. Faz o contorno e medições de estruturas, agilizando o pós-processamento de imagens. Sua última versão é a 3, que conta com suporte a escoliose e fraturas.
O CoLumbo substitui o laudo médico?
Não. Todas as medições são revisadas por radiologistas ou cirurgiões. A IA serve apenas como suporte, para agilizar o laudo médico, e trazer menor variabilidade nos tempos de leitura entre os radiologistas.
Onde o software já é usado?
Em diversos centros e hospitais, visto que já possuir marca CE e clearence FDA. Faz integração a PACS, como Sectra IDS7, e no NASS 2024 foi anunciado que passou a fazer parte do ecossistema Medtronic UNiD.
Quais são as limitações?
Não é indicado para imagens com contraste, tumores, infecções ou pacientes pediátricos; revisões humanas são sempre necessárias.
📚 Referências
Artigos científicos
Yang, Y. X. C., Yee, S. Y., Tan, T. S. E., Koh, K. K. N., Goh, A. G. W., Venugopal, V. K., Nickalls, O. J., Wong, S. B. S., & Tan, M.-O. (2024).
An artificial intelligence boost to MRI lumbar spine reporting. European Journal of Radiology, 179, Art. 111636. https://doi.org/10.1016/j.ejrad.2024.111636
Documentos oficiais e regulatórios
FDA – U.S. Food and Drug Administration. (2024, 25 jun).
510(k) Premarket Notification K241211. Disponível em: https://www.accessdata.fda.gov/scripts/cdrh/cfdocs/cfpmn/pmn.cfm?id=K241211
Produção acadêmica
Vian, A. B. (2025).
Explorando aprendizado supervisionado para avaliar a influência de parâmetros de aquisição na qualidade de imagens de ressonância magnética: um estudo de caso com metadados DICOM reais [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul].
Programa de Pós-Graduação em Computação, Instituto de Informática, UFRGS.
Websites e comunicados institucionais
CoLumbo (EU) – Sectra Amplifier Marketplace
Comunicações corporativas e releases de imprensa
Biospace / Medtronic. (2024, set).
Medtronic expands AiBLE™ spine surgery ecosystem with new technologies.
Medthority. (2024, set).
Medtronic expands AiBLE spine surgery ecosystem with new technologies.
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— 🧠 **Por Gustavo Giannella, para o Neural Saúde** Biomédico especialista em diagnóstico por imagem e inteligência artificial aplicada à saúde. Editor do portal NeuralSaude.com.br, dedicado a mapear e explicar como a IA está transformando a medicina no Brasil. 📩 Quer acompanhar as novidades? Siga o [Instagram @neural.saude] ou visite o site [www.neuralsaude.com.br] —


