Criptozoospermia e azoospermia: IA STAR oferece nova alternativa à micro-TESE

Azoospermia — ausência de espermatozoides no ejaculado, após análise laboratorial padrão — afeta até 15% dos homens que procuram tratamento para infertilidade. E se uma inteligência artificial pudesse localizar o raríssimo espermatozoide “escondido”, capaz de transformar um diagnóstico de 0% de chance, em gravidez? Conheça o STAR (Sperm Track and Recovery), a ferramenta de IA que está redefinindo a medicina reprodutiva.

O que é o STAR?

Em desenvolvimento há cinco anos, o STAR – Sperm Track and Recovery System, identifica e isola espermatozoides viáveis em amostras consideradas “sem esperma”. Para isso, utiliza uma inteligência artificial que combina visão computacional + deep learning.

Seu desenvolvimento é liderado pelo Dr. Zev Williams (chefe de Endocrinologia Reprodutiva) e Dr. Hemant Suryawanshi (engenharia & IA), no Columbia University Fertility Center (CUFC), em Nova York, EUA.

A ferramenta STAR é aplicado para quais casos de infertilidade?

Tipos de azoospermia

TipoCausaSTAR pode ajudar?
Obstrutiva (OA)Bloqueio físico nos ductos deferentes, epidídimos ou uretra (ex.: vasectomia, infecções, agenesia)Não ❌
Não-obstrutiva (NOA)Disfunção testicular primária (ex.: síndrome de Klinefelter, deleções genéticas, quimioterapia, varicocele grave)Sim ✅
Criptozoospermia (subtipo)Quantidade extremamente baixa (1–2 espermatozoides por ejaculado, detectáveis só após centrifugação)Sim✅

No caso da azoospermia obstrutiva, o STAR não é utilizado, pois, embora não presente no ejaculado, há grande quantidade de espermatozoides nos testículos ou epidídimos. E é possível utilizar outras técnicas para coletá-los.

No caso de azoospermia não-obstrutiva, há casos em que há poucos, e há casos em que não há nenhum espermatozoide. Quando há, mesmo que poucos, o STAR pode ajudar.

Já nos casos de criptozoospermia, quando há uma quantidade extremamente baixa, o STAR tem sensibilidade muito maior que observação humana para identifica-los.

Como o Star funciona?

  • Microfluídica – a amostra é canalizada em um chip selado, preservando temperatura e pH;
  • Imagem de alta velocidade – câmeras de última geração capturam ≈ 8 milhões de quadros/hora, cobrindo toda a amostra;
  • Detecção por IA – a rede neural segmenta cada frame, diferencia artefatos e células, e marca candidatos a espermatozoide em tempo real;
  • Robótica de micromanipulação – coordenadas são enviadas a um braço robótico que “aspira” cada célula viável, sem lasers ou corantes tóxicos;
  • Validação embriológica – embriologistas confirmam morfologia/motilidade e procedem à Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI), processo na qual um único espermatozoide é injetado diretamente no óvulo, ou à Fertilização em Vitro (FIV), processo na qual óvulos e espermatozoides são colocados juntos em uma placa de Petri e a fertilização ocorre sem intervenção direta.
    Importante: o STAR pesquisa toda a amostra em < 1h, enquanto humanos podem gastar dias de busca manual, e não obter sucesso.
Columbia University Fertility Center

Evidências e resultados clínicos

Por enquanto não há artigos científicos que descrevam o STAR. O que há, até o momento, são reportagens médicas no Time, Washington Post, People.com, New York Post, etc, e pré-release institucional. Estas reportagens abordaram o caso de um casal que, há anos, tentava conceber, sem sucesso, até conhecer o STAR.

O primeiro uso documentado de IA para obtenção de espermatozoides em casos de azoospermia

  • Os selecionados: um casal anônimo, que tentava conceber há 19 anos, e passou por 15 ciclos de FIV sem sucesso;
  • Não foi necessário adicionar nada ao protocolo padrão da FIV — apenas substituíram a etapa de busca de espermatozoides pela tecnologia STAR;
  • Em março de 2025, após coleta do sêmen, o STAR identificou espermatozoides onde a equipe técnica, após dois dias, não encontrava nenhum;
  • Utilizando os espermatozoides isolados, os embriologistas conseguiram fertilizar os óvulos e, em apenas duas horas, foi possível confirmar a fertilização. O embrião foi transferido, levando ao início da gestação;
  • Trata-se do primeiro uso documentado de IA para a obtenção de espermatozoides em casos de azoospermia, representando uma esperança para muitos casais com dificuldades severas de concepção.

Por que o STAR é um divisor de águas?

Hoje o procedimento considerado padrão ouro para recuperação de espermatozoides em casos de azoospermia não-obstrutiva é o Microdissection Testicular Sperm Extraction, ou micro‑TESE.

Trata-se de uma cirurgia avançada na qual a finalidade é coletar diretamente espermatozoides dos testículos, através de uma incisão no escroto. Com o auxilio de um microscópio para a identificação do melhor tecido, pequenos fragmentos são coletados e analisados em laboratório. Os espermatozoides são, então, identificados e isolados.

É um procedimento com alta taxa de recuperação de espermatozoides, mas que possui riscos típicos de cirurgia: anestesia, sangramento, infecção, dor, etc.

Vantagens na utilização do STAR

  • Não invasivo: evita biópsia testicular em parte dos casos;
  • Rapidez: horas em vez de dias, reduz degradação do gameta;
  • Inclusivo: pode atender pacientes contraindicados para micro-TESE.

Limitações no uso de IA em clínicas de reprodução

Além da falta de validação clínica já mencionada no caso do STAR, um estudo divulgado no Journal of IVF‑Worldwide, em julho de 2025, apresentou várias limitações percebidas na incorporação da inteligência artificial (IA) nas clínicas de reprodução assistida. No estudo, foram comparados dois grandes questionários globais conduzidos em julho–agosto de 2022 (383 participantes) e fevereiro–março de 2025 (171 participantes), entre especialistas em fertilidade e embriologistas.

Dentre as limitações destacadas:

  • Custo elevado das tecnologias de IA: muitos profissionais apontaram que os sistemas baseados em IA ainda são caros, o que dificulta sua adoção por clínicas menores ou em países com menos recursos;
  • Falta de treinamento e conhecimento técnico: a maioria dos entrevistados indicou que há uma lacuna no conhecimento necessário para operar, interpretar e confiar nos sistemas de IA, tanto por médicos quanto por embriologistas;
  • Preocupações éticas e legais: houve menções frequentes sobre a falta de diretrizes claras, dúvidas sobre responsabilidade legal em caso de erro e preocupações com a transparência dos algoritmos (caixa-preta da IA);
  • Dependência excessiva de tecnologia: alguns profissionais expressaram receio de que o uso de IA possa reduzir a autonomia clínica e a capacidade crítica dos especialistas humanos, levando a uma confiança cega nos algoritmos;
  • Falta de validação científica robusta: muitos participantes disseram que ainda há escassez de evidências clínicas amplamente aceitas para validar os benefícios prometidos pela IA em termos de taxa de sucesso na FIV;
  • Integração limitada com os sistemas existentes: em muitas clínicas, os sistemas de IA ainda não se integram de forma fluida com os fluxos de trabalho ou plataformas laboratoriais já utilizadas.

Embora os questionários tenham sido realizados com um intervalo de dois anos e seis meses, as limitações foram consistentes em ambos, embora alguns indicadores tenham melhorado com o tempo — como a familiaridade com IA e o interesse em investir mais em sua adoção futura.

IA na medicina reprodutiva (além do STAR)

Ferramentas já em uso comercial

iDAScore (Vitrolife)

O iDAScore, da empresa Vitrolife, fornece uma classificação hierárquica e reprodutível (pontuação 1-9.9) dos embriões de um ciclo, de acordo com a probabilidade de atingirem batimento cardíaco fetal após a transferência. De forma simplificada, funciona assim: é realizada a captura time-lapse de imagens do desenvolvimento do embrião, então, um modelo de deep learning processa essas imagens, extrai pistas morfológicas, e gera a pontuação.

Life Whisperer (Presagen)

Assim como o iDAScore, o Life Whisperer, da empresa Presagen, também utiliza deep learning para avaliar a viabilidade embrionária. Mas o Life Whisperer estima a chance de gravidez e identifica o risco de alterações cromossômicas, utilizando foto estática, não time-lapse.

Ferramentas em desenvolvimento/estudo

Outras ferramentas estão sendo desenvolvidas, como o CHLOE, da empresa Fairtility (startup de tecnologia de fertilização assistida). A ferramenta identifica embriões no dia 3 com maior chance de formação de blastocisto até o dia 5.

❓ FAQ – Perguntas Frequentes

O que é a tecnologia STAR usada para azoospermia?

O STAR (Sperm Track and Recovery) é uma ferramenta de inteligência artificial desenvolvida para localizar e isolar espermatozoides viáveis em amostras com azoospermia não-obstrutiva ou criptozoospermia. Utiliza visão computacional e deep learning para detectar células em movimento quase imperceptíveis a olho nu.

Quais tipos de azoospermia podem se beneficiar do STAR?

O STAR pode ser útil em casos de azoospermia não-obstrutiva (NOA) e criptozoospermia. Ele não é indicado para azoospermia obstrutiva, em que outras técnicas invasivas são mais eficazes.

Como funciona o STAR na prática?

A amostra de sêmen é colocada em um chip microfluídico e analisada por câmeras de alta velocidade. A IA detecta potenciais espermatozoides em tempo real e envia as coordenadas para um braço robótico, que isola as células para uso em fertilização in vitro (FIV) ou ICSI.

O STAR substitui a cirurgia de micro-TESE?

Em alguns casos, sim. O STAR pode evitar a necessidade de biópsia testicular (micro-TESE), especialmente quando há presença mínima de espermatozoides na amostra ejaculatória. No entanto, em casos extremos, a micro-TESE ainda pode ser necessária.

O uso do STAR já foi cientificamente validado?

Ainda não existem publicações científicas revisadas por pares sobre o STAR. Até o momento, há apenas relatos clínicos documentados em veículos como Time e Washington Post, além de divulgações institucionais da Columbia University.

Onde o STAR está disponível?

Atualmente, o STAR está em uso experimental no Columbia University Fertility Center, em Nova York. Ainda não há confirmação sobre sua disponibilidade comercial em outras clínicas ou países.

📚 Referências

Artigos Científicos e Estudos Acadêmicos

Sites Institucionais e Médicos

Reportagens e Cobertura na Mídia

Ferramentas de IA em Reprodução Assistida

Toda segunda-feira uma ferramenta que revoluciona a medicina é apresentada, em detalhes, na seção Neural em Campo. Acesse e acompanhe.

— 🧠 **Por Gustavo Giannella, para o Neural Saúde** Biomédico especialista em diagnóstico por imagem e inteligência artificial aplicada à saúde. Editor do portal NeuralSaude.com.br, dedicado a mapear e explicar como a IA está transformando a medicina no Brasil. 📩 Quer acompanhar as novidades? Siga o [Instagram @neural.saude] ou visite o site [www.neuralsaude.com.br] —

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